19 junho 2007

Carta n.º 8



Lisboa, 14 de Março de 2006


Ex.ma Sr.ª,


Porque não lhe posso chamar Doutora, como gosta de se declarar.

Venho por este meio informá-la que não vou voltar a chegar atrasada a esta empresa, seja por mero atraso ou por ter terríveis dores nas costas. Não vou voltar mais a carregar ao ombro o computador mais antigo e mais pesado da empresa. Não sei se se recorda, mas em 2003 tive um acidente de trabalho que me deixou imóvel na cama por 2 dias. Hoje sei que tenho uma hérnia discal.

Não chego mais atrasada, porque a partir de amanhã, o meu lugar estará à disposição de qualquer recém-licenciado que o queira ocupar.

Estes cinco anos e meio só me fizeram mal, física e psicologicamente. Está na altura de cuidar de mim e deixarem cuidar de mim; há muitas empresas que se preocupam com os seus colaboradores. Uma delas gostou de mim e acredita que eu tenha competências para trabalhar com pessoas, ao contrário desta.

Não sei de onde lhe vem esse prazer mórbido de infernizar os seus colaboradores, as suas abelhas obreiras, mas se um dia reconhecer que tem problemas de índole psicológica posso remetê-la para uma psiquiatra ou uma psicóloga. São muito boas. Fizeram com que eu acreditasse novamente em mim, com que eu reconhecesse o meu real valor, e com que não me deixe, nunca mais, subvalorizarem-me.


Sem outro assunto, minha querida,

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